Em outubro de 2008, nasce o Projeto Revolução dos Baldinhos, uma proposta de gestão comunitária de resíduos orgânicos e a promoção da agricultura urbana. Essa prática tem como eixo principal a reciclagem da fração orgânica de maneira descentralizada através da compostagem termofílica, transformando restos de comida em composto orgânico. Jovens sensibilizam famílias para a correta separação da fração orgânica na fonte, coletam os resíduos em pontos de entrega voluntária, encaminham para um pátio de compostagem comunitário e transformam o resíduo em adubo orgânico. Esta gestão contribui para o surgimento de hortas em escolas e quintais, geração de trabalho e renda, inclusão social, sanidade urbana e a segurança alimentar e nutricional. O projeto é realizado por um grupo comunitário formado por jovens que estão constituindo uma cooperativa com a intenção de criar autonomia através da comercialização do adubo e o recebimento pelo serviço prestado de coleta e tratamento dos resíduos.
Esta comunidade é considerada a de menor IDH do município de Florianópolis-SC, com localidades em precárias condições de moradia e saneamento básico. Em 2007 ocorre um surto de leptospirose, devido à alta população de ratos, favorecida pela abundância de restos de comida espalhados pela rua. Foi quando então um médico do posto de saúde, tendo conhecimento das atividades de agroecologia e educação ambiental em escolas do bairro, realizadas pelo CEPAGRO, sugere ampliar o processo da compostagem, retirando do lixo a fração orgânica que alimentava os roedores. A comunidade adotou a idéia e logo o grupo se formou, distribuindo pequenos baldes às famílias interessadas, orientando para a correta separação.
Hoje existem mais de 200 famílias envolvidas no projeto, sendo reciclados em torno de 12 toneladas/mês de resíduos orgânicos. O adubo produzido parte é doado às famílias para incentivar a agricultura urbana em espaços públicos e em quintais e parte é comercializado pelo grupo que é formado por 07 jovens da comunidade incrementando suas rendas. Em 2012 o projeto recebe a certificação de tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil (FBB) e, em 2014, é premiada em segunda colocada nacional pela FBB, demonstrando relevância nos serviços prestados, consonância com a nova política nacional de resíduos sólidos e seu potencial de replicação em outras comunidades. O trabalho ganhou também forte visibilidade e reconhecimento, atraindo entidades públicas e privadas dispostas em adotar a metodologia
A falta de políticas públicas de apoio e fomento ao modelo de gestão comunitária de resíduos orgânicos aliado ao modelo de desenvolvimento urbano que limita usos de áreas para a implantação de pátios de compostagem se apresenta como desafios que precisam ser contornados. A desconformidade da Lei 12305/2010 por parte dos municípios também dificultam, pois a compostagem, bem como a participação de cooperativas são recomendadas e prioritárias segundo a PNRS.
No modelo de gestão comunitária de resíduos orgânicos que promove agricultura urbana através da compostagem sabemos que a mobilização comunitária através da educação ambiental é a chave para o sucesso da separação dos resíduos na fonte, bem como para garantir a participação social e a promoção dos benefícios desta pratica. Portanto o trabalho realizado pelo grupo comunitário é motor desta gestão, aliado a uma assessoria técnica competente. A metodologia aplicada na Revolução dos Baldinhos cumpre com 03 quesitos básicos da PNRS, trata dos resíduos o mais próximo da fonte geradora, utiliza a compostagem como forma de tratamento dos resíduos orgânicos e promove a inclusão social através do trabalho do grupo comunitário que se constitui numa cooperativa. Para o sucesso desta prática é importante a participação social da comunidade através das famílias e grupo comunitária que deve ser remunerado pelos resíduos coletados e tratados, uma assessoria técnica competente e a participação do poder publico local incluindo esta gestão no seu sistema de gerenciamento dos resíduos